terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O SERTÃO

Uma das minhas mais antigas lembranças do sertão é da cidade de Riachão.
Meu pai tinha amigos, em todos os segmentos da pequena cidade; de sertanejos pobres até proprietários de grandes vastidões de terras.
De vez em quando gostava de visitar esses amigos, via de regra, compadres e comadres. Os que não estavam unidos pelo vínculo religioso muitas vezes recebiam o mesmo tratamento de "compadre"/ "comadre".
Lembro de muitas visitas a lugares distantes, ligados por estradas de chão, onde moravam sertanejos idosos, com suas esposas e filharadas.
Tocavam suas fazendas e suas criações, no manejo tradicional, soltos no carrasco, ao Deus dará, adaptados ao ecossistema e ao clima.
Lembro dos currais precários, de paus retorcidos, o gado miúdo, de berro alongado, enfileirando o passo por entre veredas de vegetação baixa e ressequida.
Ao meio-dia, sol a pino, o almoço era servido aos visitantes, na mesa comprida de tábuas de madeira de lei, escurecida pelo tempo. 
Copos de alumínio, água de pote, doce de buriti ou bacuri, sucos de frutas da época, carne de sol, paçoca, ovos, macaxeira, tudo o que convém para a abastança.
Sonolentos e empanturrados, vínhamos para a varanda, onde redes grandes e avarandadas nos esperavam, agitadas pela brisa de verão.
Ainda se tinham forças para balbuciar alguma conversa, pontuadas pelo trilar de um bando de capotes irrequietos.
A gente ouvia o sino dos carneiros, compassado, como que embalando a rede. Aqui acolá um canto de galo, embaixo das fruteiras. 
A conversa ia se perdendo, no eco dos grotões, silenciada por revoadas de periquitos prenunciando o tempo de manga.
O cochilo era profundo, na paz dos porcos na lama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

NINHO DE CAPOTE

A galinha d'Angola veio da África trazida pela colonização portuguesa. Adaptou-se com facilidade ao país e hoje está presente em todas ...