segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Sobre médicos cubanos.


Apenas um simples testemunho. Numa das vezes que me desloquei para a terra indígena Alto Turiaçu, a viagem não foi menos cansativa.
De Zé Doca até a aldeia do Gurupiúna, da etnia Ka'apor, o percurso é sofrível. Árvores e arbustos ressequidos tombados sobre a estrada de chão é regra.
Veredas que vão se estreitando, à medida que se adentra ao território indígena, ladeadas por grandes árvores, entrecortadas por córregos e pontes precárias e improvisadas. 
A impressão que se tem é de percorrer uns 100km, mas o trajeto é bem menor, até a aldeia.
No inverno tudo fica mais difícil, claro. As estradas cortam pela força das águas ou simplesmente se transformam em grandes charcos de lama.
Em várias aldeias do território sair do isolamento no período chuvoso exige que se nade. Isso mesmo.
Nesse dia, cheguei de madrugada na aldeia, uma área de proteção (que os Ka'apor chamam Ka’a usak ha). Na borda do aglomerados de casas, uma pinguela improvisada, cortando o rio Gurupíuna, iluminado por um luar oportuno.
Cruzando a pinguela, avistei dois homens, canoa, abaixo, numa pescaria silenciosa, de penumbras. Pela conformação física, um deles não reconheci. Grande e negro, remava.
Deixei a curiosidade para o amanhecer e tratei de cochilar nas poucas horas que me restavam até o sol sair, sabendo que, depois disso, ninguém dorme mais na aldeia. Minha rede nessa hora parecia a cama de um rei.
De manhã, o homem se deixou avistar na reunião, furtivamente. Espiou os presentes rapidamente e foi para um outro barracão. Um indígena respondeu ao meu olhar curioso: era um médico Cubano.

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