segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O CURRUPIRA NOS LENÇÓIS

No litoral oriental maranhense fui chamado para tratar do assunto envolvendo as comunidades do Parque Nacional dos Lençóis.

Cerca de 155 mil hectares, 2/3 ocupados por dunas alvas, incandescentes no sol a pino, pontilhadas por lagoas que se formam no período chuvoso.

O Parque Nacional atinge três municípios da região, Barreirinhas, Primeira Cruz e Santo Amaro, principalmente comunidades tradicionais na zona rural.

A Unidade de Conservação foi criada pelo Decreto Nº 86.060, publicado em 2 de junho de 1981, em plena ditadura militar. À revelia da presença das comunidades tradicionais ali instaladas, desde o início da colonização, criou-s-e uma unidade de conservação de proteção integral, o que posteriormente se configurou numa ameaça permanente de expulsão dos moradores.

Com a criação do ICMBio, contraditoriamente à simbologia dos nome, os comunitários passaram a ser perturbados pela fiscalização do órgão, impondo normas e controles incompatíveis com a permanência e reprodução dos povoados.

Para orientar soluções é que fui acionado, participando de várias reuniões e montando com os moradores e o sindicato de trabalhadores rurais uma estratégia jurídica de médio e longo prazo.

Nesse percurso de viagens aos povoados é que me deparei com uma história curiosa, nos confins da Tratada de Cima, povoado próximo à famosa Lagoa Bonita.

Nesse povoado vivia um irmão de meu anfitrião, Ivan Cabral, diretor da FETAEMA (uma federação de sindicatos de trabalhadores rurais). Ali fazíamos nosso pouso de viagens cansativas, por dentro do areial e das dunas, em veredas por vezes estreitas, por vezes amplas e descampadas, entrecortadas por riachos de águas cristalinas.

No limiar do sono, balançando o corpo na rede armada, ouvi o morador dizer sobre um achado estranho. Segundo ele, seu cavalo teria aparecido com as clinas trançadas em forma de estribo. Isso teria acontecido outras vezes.

Daí a conversa descambou para a lenda do currupira, um ser encantado das nossas matas. Desde menino os maranhenses são assombradas pelas histórias do currupira, um menino de peludo, de pés virados para trás, que se apresenta como protetor da floresta.

Para os moradores, a clina do cavalo trançada era uma prova concreta da existência desses seres, visto que ninguém conseguiria fazer isso com um cavalo arisco como aquele, e não haveria necessidade, porque somente uma pessoa muito pequena poderia se servir daquele estribo.

E antes de encerrar a conversa, a lua já oscilando no céu estrelado, lembrei a todos da estória do "gritador", um ser estranho que assombrava os moradores de Araióses, cidadezinha nas proximidades do Delta do Rio Paranaíba. 

Essa estória eu pretendo contar depois, tomando goles de café de bule, de preferência.





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